24.5.11

Vivo

O último dia acabou às dez horas da noite e catorze minutos e vinte e oito segundos, num rectângulo constituído por uma tábua em madeira de cerejeira, colada a uma esponja amarela sem marca nem referência em particular, era esponja, cobertas as duas por recurso a um material sintético de cor preta, aproximado da napa em termos de aspecto, mas podendo não o ser, pela inaptidão em determinar peles e copiados, estando a napa, vamos dar-lhe seja como for essa designação, agarrada à parte inferior da tábua com agrafos da dimensão de quinze milímetros, acobreados,  havendo três desaparecido com o tempo e com o uso, enquanto que os resistentes permaneceram cravados, em linha recta, sensivelmente à distância de um palmo de uma mão adulta e de homem, e cuja totalidade deles deixava ver, de forma evidente, partes de ferrugem, não tendo deixado de cumprir, por via desse desgaste natural, o efeito de esticar a pele e de prender a esponja à tábua, vivendo as três partes, presas por arames interrompidos, uma vida inseparável. Havia dias em que alguém morria deitado de costas para esta maca. Hoje foi um desses dias. 

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