O futuro queria ter visto a gaivota naquele amanhecer de Março. Quando os ponteiros do relógio se alinharam e o sol entendeu estar na hora de fazer quebrar o gelo. Queria ter visto a envergadura das asas, abertas na forma de quem se prepara para abraçar com saudade o momento em que se regressa. Queria ter visto a sombra a crescer no chão e a gaivota a descer no ar, com o ar de quem chega ao lugar de onde nunca devia ter saído.
Nessa estação, o sol aproximou duas bocas. As duas bocas vinham de um deserto onde o tempo repousa quando tem tempo. Beberam uma da outra, souberam de si, sorriram e por fim regressaram devagarinho ao lugar onde se tinham reencontrado.
Antes de se aventurar no mar, uma gaivota conta a todas as outras gaivotas da praia, ter ouvido a história de dois humanos e jura ter escutado qualquer coisa sobre um encontro marcado entre eles para uma troca de olhares no corredor das bolachas de um supermercado.
O futuro entra de rompante na conversa para dizer que o tal encontro nunca chegou a acontecer. Mas acrescentou, o futuro, quando se meteu na conversa, que o rapaz dessa história passou ontem a correr nesse mesmo corredor. E que quando por lá passou, viu um frasco de mel caído, partido e derramado no chão. E que ao passar disse sorry honey.
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