Para começar, nascer até que não está mal. Mas está. Se for para começar como deve ser, o verbo tem de ser um de dois: amar ou engatar. Pegando no segundo, convém ter a gramática aberta no verbo abrir, porque é isso que vai acontecer, depois de o pai convencer e a mãe anuir e depois de os dois se dedicarem ao tocar. Reza a história que haverá a seguir uma constante indecisão entre dois outros verbos: o entrar e o sair. Até que... numa perspectiva mais clínica do evento, se chega ao verbo ejacular, verbo esse conjugado apenas pelos mamíferos do sexo masculino. Mantendo o tom clínico, e para que a mulher não se queixe de ficar sem um verbo para ela, deixemo-la entretida com o fecundar . É coisa para a deixar ocupada durante nove meses.
Posto isso, então sim. Aí vem, careca, sem pelos nem dentes, de olhos quase fechados e em modo de choro, o tal verbo nascer. Diz que é o princípio de tudo. Sendo sobretudo, nos primeiros tempos, o expoente máximo do mamar, chorar, do comer, do mijar e do cagar. São os primeiros passos de uma etapa baptizada, por unanimidade, com o verbo crescer. Gatinhar, andar e falar estão para quem nasceu como limpar está para quem fez nascer.
A vida é todos os verbos. Quem não sabe conjugar sem cábulas o verbo doer? Mente quem diz que não e isso só o(a) fará sofrer ainda mais. Felizes de todos aqueles que encontram, nem que seja por uma uma só vez, o sítio onde os dias tiram férias para amar. E valha-nos as gargalhadas do rir e os momentos de verão em plena tempestade do sorrir. Nunca esquecendo que tudo isto é para morrer. Mesmo para quem se está pouco a foder.
PS: Verbos como matar, roubar, enganar e violar dão pena de prisão. A igreja diz que cobiçar também não é lá muito bonito.
3 comentários:
O sentido da vida by António Reis... Muito bom!
Abraço.
Maravilhoso.... Adorei, antoine...
oh!! les amis du cahier ;)
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