17.3.11

As bonecas russas

Moscovo - Ken, figura de plástico do imaginário infantil norte-americano, não existe na Rússia. Aqui as bonecas não ligam a rapazes de pólo anil, calças brancas drobradas nas beiras, sapatos de vela azuis com atacadores brancos em pele e sola da mesma cor e um pull-over rosa caído sobre os ombros, com as mangas apertadas no peito. Aqui as bonecas não ligam a esses rapazes de corte de cabelo engomado, a esses modelos tão limpos tão limpos que estão à beira de deixarem de ser rapazes para passarem a ser naturalmente raparigas.
Estas Barbies de pele e de carne e de osso e de cabelos verdadeiros e de pestanas verdadeiras, têm pedras preciosas no lugar dos olhos, mas não têm sucedâneos do amaricado, perdão, americano Ken. Estas Barbies não gostam muito de homens. Esta Barbies é mesmo possível que não gostem nada de homens. Elas gostam de cilindros, muitos, de bancos aquecidos em pele, de volantes grossos e carroçarias grandes. Gostam de pneus altos e largos. Gostam de vidros pretos e de modelos traduzidos em milhares de euros. Só no fim disto tudo é que guardam um bocado do acto de gostar e então gostam perdidamente do tipo mais baixo, mais velho, mais gordo que vai ao lado a conduzir a relação de interesses. E mais rico.
"As Bonecas Russas" é o título de um filme francês que faz a continuação, cinco anos mais tarde, do filme "A Residência Espanhola". È sobre a tentattiva de um jornalista reconciliar o trabalho, a escrita e o amor. Da minha parte posso dizer que não vinha a Moscovo há cinco anos.

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