Gulpilhares - Na cadeia de supermercados onde acabo de entrar, os cestos de plástico com rodinhas são verdes, mas estes não são, são cinzentos, e a troca inesperada de cor faz-me duvidar, quando me baixo para pegar na pega de um, do lugar onde estou, e eu, por um instante, interiorizo que me enganei e exteriorizo um gesto ao pousar o cesto e volto o olhar para a entrada e volto a ter a certeza de estar no lugar certo, porque as letras com o nome do lugar assim o dizem. O lugar está certo, eu estou certo. Errada está a cor cinzenta do cesto com rodas pretas.
Na prateleira onde estão os livros não há um livro capaz de me fazer esticar o braço, de o escolher, de o abrir, o folhear e o ler nos primeiros parágrafos. Ponto final na prateleira dos livros. A sair de lá para conduzir o cestinho daltónico até ao corredor do pão, levo de frente com uma funcionária, ela igualmente daltónica, numa farda azul, estranha à uniformidade verde de todos os outros supermercados com o mesmo nome e a mesma música e o mesmo anúncio e o mesmo imposto de valor acrescentado.
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