15.1.10

Em nome próprio

Regresso com a mão esquerda encostada ao nariz e o ombro do mesmo lado encostado ao queixo. Regresso com direita igualmente de punho cerrado, sobre esta barba assimilada pelo rosto nos últimos oito dias.
O pé esquerdo é uma âncora cravada no chão. O direito comporta-se nos vícios de quem apaga um cigarro. O calcanhar fica suspenso. É para o caso de evitar uma queda no caso de o primeiro golpe sair de algum daqueles que estão diariamente a apregoar combates imaginários. Chegando mais perto, a dimensão de cada um dos elementos do exército de cobardes não chega a provocar espanto. A pequenez do cobarde permite-lhe cobrir-se, dos pés à cabeça, com uma página de um jornal.
Em nome próprio, eu António, descalço as luvas e faço a saída por entre as cordas. Quando o encontro de palavras tem de ser com gente que só é gente por ser amiga do amigo do amigo do amigo influente, a resposta sai melhor numa folha em branco. As letras ficam guardadas no corpo.

3 comentários:

AD disse...

Brilhante!

Unknown disse...

...comovente!!
Fantastico!

António Reis disse...

;)

Bob Dylan

Aquele bendito instrumento musical, a máquina de escrever, e os seus botões de onanizar tímpanos, as teclas, corpos fora do corpo,...