5.3.10

Falta-me chão

A minha vida tem uma distância de quinze quilómetros. É a latitude média de um dia útil. A contar de uma freguesia com mar em Vila Nova de Gaia, a distância deixa a adivinhar que seja a sul, até esse sítio em que numa avenida citadina há uma bomba de gasolina por baixo de um prédio de habitação. Eu vou para o edfício anterior, à parte onde três pisos de escritórios têm escriturário nenhum. Há uma redacção televisiva por baixo de um consultório de fertilidade e por cima de uma agência de seguros. Exerço o meu ofício entalado entre o que acabei de contar. No rés-do-chão mora uma recém nascida loja de mobiliário.
A longitude dos meus passo não vai, por norma, além de dois quilómetros a contar do mar. Vivo de domingo a domingo num rectângulo de dois por quinze quilómetros. Falta-me chão debaixo dos pés. Não poderei dizer coisas para lá das linhas desta moldura pequena. Um dia saberei contar em detalhe a dureza das montanhas e o perfume das gardénias. Haja chão para calcar.

2 comentários:

Liliana Garcia disse...

Haja chão ;)

António Reis disse...

haja ;)

Bob Dylan

Aquele bendito instrumento musical, a máquina de escrever, e os seus botões de onanizar tímpanos, as teclas, corpos fora do corpo,...