4.12.09

O senhor deputado

Generalizar é um verbo para não se dizer.
Corre o risco ao lado, com os dentes do pente em aço cinza prata. Atira a laca ao cabelo em abundância. Está a viver o momento mais generoso do dia. A laca vence a atmosfera num inequívoco knock-out e ele julga ter descoberto a pólvora quando o ar, ele próprio, precisa de se baixar para respirar. Generalizar é um verbo para não se dizer.
O dia de estreia no hemiciclo foi o pretexto perfeito . Assentava no senhor deputado como um fato italiano de quatro dígitos. O pretexto era uma ida às compras.
Tocou á campainha do número 28 da rua das Portas de Santo Antão. Visto desde o passeio, podia ser um sobrinho de visita a uma velha tia habituada à prisão do último andar de um prédio sem elevador.
No último lanço de escadas o sobrinho já não tinha a compostura de um deputado, tinha sim o ar de um sobrinhoque bateu á porta eraada e se viu sem saber como na ampla entrada do studio mais exclusivo e secreto do país. Ali ficava o último grito. Julgo que ganiu baixinho. O último grito das canetas que é melhor ter 20 euros sempre à mão, não vá a carga acabar e o texto fica longe do fim; O último grito das gravatas, no ponto da loja em que dois rapazes de ar sensível confudem um fio de pôr ao peito com uma gravta fina; o último grito das meias, tão finas, fininhas, quase de mulher, mas não porque eles do grupo parlamentar de direita não suportam homens em collants. também não vamos estar a generalizar.
Chegou ao parlamento com o melhor fato, a melhor camisa, a melhor gravata, os melhores sapatos. O cabelo obedecia ao processod e lacagem. Ficou sentado na segunda fila. Foi chamado em primeio lugar. Anunciou que tinha sido retirado o livre-trânsito ao verbo generalizar...
- "acabou o tempo senhor deputado. Há coias que nunca mudam. Novos ou velhos, nunca cumprem a alínea do regimento relativa ao tempo"
O neo-deputado pretendeu retorquir, dizendo que o presidente da assembleia da república estava a generalizar, mas já não o pôde fazer.

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