Entra um som grave na sala. Vem do toque do arco nas cordas. É um violino a dizer que a banda sonora desta tarde é uma estação chamada outono. É um barulho quente. Antecede a entrada de uma voz triste. Podia ser o início de um filme nostálgico. Não é. É a realidade quando bate com força nas rochas. É o mar aflito por chegar a terra, o som do violino, preso, espalmado, num disco.
Quando todos os outros instrumentos chegam à música, há quem corra num estrado de madeira sobre a areia da praia. O vento, que não tinha sido convidado para a corrida desta tarde, lá acabou por se decidir a aparecer à ultima da hora. Trazia demasiadas histórias para contar e contou-as todas ao mesmo tempo. Assim o fez, sem pedir licença, só porque tem a mania que é uma força da natureza. Mal dava escutar o violino, a voz e os outros instrumentos todos. Que nos perdoe a natureza, em toda a sua força, mas o homem também tem poderes reservados pela experiência para os mais inusitados apertos. Com o ligeiro toque de um dedo, se aumenta a opção onde diz volume.
A corrida tinha sido programada para durar trinta minutos. No último segundo do tempo estimado à partida, o obediente corpo do corredor obedeceu à sugestão do cérebro e deu ordem de paragem às pernas. O corredor parou no exacto lugar onde estava um cartaz de promoção ao filme "Morrer com um homem". Viu ali um sinal para se começar a portar como tal.
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