3.12.09
Um parágrafo de amor
E viveram felizes para sempre. Ela, que só tinha olhinhos para ele, pressentiu o princípio dos dias contados quando a leitura dos livros com letras mais pequeninas se assemelhava, a ela, a uma forma de utilizar a força como um meio para atingir um fim. Primeiro custava. Custava muito. Depois doía. Doía muito. Não tardou até que o simples descolar das pestanas se transformasse num sacrifício desumano. Não que aquilo fosse sinal de que o amor estava a desaparecer a olhos vistos. Não, não. Não era. Aquilo era uma simples dor física, facilmente resolvida com uma ida ao oftalmologista. O problema residia no facto de ela, um dia, há muito tempo, ter prometido olhinhos só para ele. Pensando na jura antiga, foi então que decidiu arriscar a cegueira a colocar-lhe, assim, de um dia para o outro, um valente par de óculos.
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