28.12.09

O meu primeiro porno

Prólogo continuado

Ao reentrar no quarto, fez por passar ao largo da cama. Era lá que o mundo inteiro se fodia, naquele ringue sem cordas. A coisa fazia-se no rectângulo deitado ao chão, onde dois metros e vinte de comprimento se cruzam com dois metros exactos de largura. Naquela madrugada ele tinha sido um bom animal. Tinha sido o animal que ela estava a precisar que ele fosse.

Na quietude de uma cabeça sozinha num apartamento sobre o rio Douro, enquanto recuperava os passos perdidos da noite anterior, o homem que ainda agora julgava ter morrido, esteve prestes a tropeçar e isso só de se ter lembrado a última erecção. Última de anterior, não última como se tivesse sido há uma enormidade de tempo. De adjectivo em adjectivo faz tangentes imaginárias a superlativos relaccionados, em grande escala, com o dispositivo sexual que tinha deixado, a noite inteira ao dispor de uma cidadã, que apesar de já a conhecer de trás para a frente, por dentro e por fora, ainda não tinha tido oportunidade de dar um passo tão primário como o de perguntar o nome. A rapariga tinha sofrido do mesmo lapso inquiritivo, pelo que as coisas estavam empatadas no final do combate.

Posto isto, ele continuava à procura da pessoa que um dia tinha sido em casa de uma estranha que dela sabia apenas a ter entranhado até mais não. Não irá chegar ao local onde está a resposta, continuando a fase da vida em que deixa o corpo em rounds, espalhado pelas noites da cidade, a caminho do útero de mulheres com perninhas de abertura fácil.

6 comentários:

Luisa disse...

Há palavras fortes... devias publicar...com escândalo... é mais bonito...

Unknown disse...

Caríssimo, estás a ficar parecido, na prosa, com o ilustre Eça de Queirós. Tanta e boa descrição... Gostei da analogia final com a cerveja de abertura fácil. Todos sabemos que no final há uns que fumam e outros que bebem. LOL.
Abraço e Bom 2010!!

António Reis disse...

Essa do Eça fez o escrivão sorrir ;)Obrigado Johnny e tudo de bom para ti também em 2010 e nos anos a seguir.
Luísa, agradeço o incentivo e vou-me contentando com a publicação neste espaço. É um prazer indescritível.

Nocas disse...

Desculpa a intrometer-me no teu mundo...mas foi inevitável. Este texto é muito,mas muito bom. Parabéns!! Continua porque alegras os dias de quem ama as palavras. Obrigada

Luisa disse...

Ainda bem que te dá um prazer "indescritível" publicares os teus textos neste espaço... ainda assim acho que daria um bom livro.
Dá o que pensar... e dá gosto lê-lo... Bjs, Antoine...

António Reis disse...

merci 2009 et à vous

Bob Dylan

Aquele bendito instrumento musical, a máquina de escrever, e os seus botões de onanizar tímpanos, as teclas, corpos fora do corpo,...